"Área urbanizada do planeta triplicou em 14 anos"
"A superfície terrestre voltou a ser catalogada depois de um
levantamento feito em 2000. Catorze anos depois, a versão actualizada é a
mais detalhada de sempre sobre a forma como está distribuído o planeta.
Conclusão: a área com construção humana triplicou e ocupa agora 0,6% da
Terra, enquanto as zonas de cultivo e as cobertas por árvores
diminuíram.
A base de dados Global Land Cover SHARE, divulgada pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) das
Nações Unidas, reuniu informação sobre toda a superfície terrestre
recolhida através de imagens por satélite e da harmonização de
definições e padrões internacionalmente aceites para a classificação da
superfície terrestre. Até aqui, este processo era complexo, já que eram
utilizados dados de países e organizações recolhidos através de
processos com diferentes critérios de selecção de informação.
“Pegámos
nas melhores bases de dados disponíveis nacional e internacionalmente,
criámos imagens de alta-resolução e juntámo-los numa base de dados
global com uma resolução de aproximadamente um quilómetro quadrado”,
explica o responsável pelo projecto na FAO, John Latham, ao site
de informação científica SciDev. Para garantir que os dados eram o mais
correctos possível, foram visitados mil locais aleatoriamente para
confirmar se se tratava de uma área de cultivo ou de uma zona de
pastagem, por exemplo.
Reunidos os dados, a equipa de Latham
classificou as zonas do planeta em 11 categorias — urbana, deserto,
corpos de água, vegetação herbácea, manguezais, neve e glaciares, áreas
arborizadas, cultivo, pastagens, vegetação escassa e áreas de vegetação
arbustiva.
Comparando os dados de 2000 com os recentemente
reunidos, o Global Land Cover SHARE concluiu que se, por um lado, as
zonas com construções feitas pelo homem ganharam terreno em 14 anos, as
áreas de cultivo diminuíram de 15,7% para 12,6%, e a superfície
terrestre coberta de árvores perdeu espaço, recuando de 29,4% para
27,7%. À excepção das zonas ocupadas por neve, glaciares e a Antártica
(2,7%) todas as outras zonas cresceram e apresentaram novas percentagens
no planeta: deserto (15,2%), vegetação herbácea, escassa e arbustiva e
pastagens (31,5%), corpos de água e manguezais (2,7%).
John Latham
considera que saber de que forma a superfície terrestre é preenchida é
“essencial para promover uma gestão sustentável dos recursos” do
planeta, nomeadamente a produção agrícola para alimentar uma população
em crescimento — actualmente mais de sete mil milhões —, mas também
garantir a protecção do ambiente.
Para o responsável do Global
Land Cover SHARE, este projecto é “uma ferramenta valiosa para avaliar a
sustentabilidade da agricultura e para suportar provas baseadas num
desenvolvimento rural sustentável e no uso da terra que contribua para
reduzir a pobreza, permitindo sistemas agrícolas e alimentares
inclusivos e eficientes e aumentar a resiliência dos meios de
subsistência”.
Quanto à questão ambiental, o projecto é
apresentado como um meio para compreender as alterações climáticas e o
seu impacto nos recursos naturais e na produção de alimentos.
Com a
diminuição das áreas de cultivo para 12,6% da superfície terrestre,
John Latham alerta que é necessário inverter o que poderá ser uma
tendência, dado o crescimento constante da população mundial. A FAO
estima que a produção de alimentos para dar resposta a este crescimento
terá que aumentar 60% até 2050."
Fonte: Público 5.5.2014
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