"O demógrafo norte-americano Carl Haub considera que a imigração é a
melhor forma de combater a baixa natalidade nos países ocidentais,
Portugal incluído, mas a falta de empregos anula essa solução.
«Sem empregos não há imigração», disse à agência Lusa o especialista,
que se deslocou a Portugal pela primeira vez para participar no encontro
“Presente no futuro – Os Portugueses em 2030”, que decorre em Lisboa,
na sexta-feira e no sábado.A situação portuguesa é
idêntica à que se regista em quase toda a Europa e nos países
desenvolvidos da Ásia, como o Japão, a Coreia do Sul, Singapura ou
Taiwan. Em Portugal a taxa de fertilidade actual é de 1,3
filhos por mulher, num continente onde a média é de 1,9. A Letónia
apresenta o valor mais baixo (1,1), seguido da Hungria e da
Bósnia-Herzegovina (1,2), de acordo com a tabela referente a este ano da
instituição norte-americana Population Reference Bureau (PRB), onde
Carl Haub, 67 anos, produziu em 1980 a base de dados da população
mundial mais consultada, a World Population Data Sheet.
A
taxa europeia mais alta ocorre na Irlanda (2,1), único país que
apresenta o valor que os demógrafos consideram o mínimo para assegurar a
manutenção da população na geração seguinte. A Islândia, a França e o
Reino Unido são os países que se seguem, todos com uma taxa de dois
filhos por mulher.
Em termos de comparação, em África a
taxa média por mulher é de 4,7 filhos e o Níger detém mesmo recorde
mundial: 7,1, ainda segundo a tabela do PRB.
O
especialista diz que «não há uma causa específica» para a situação
registada no Ocidente, mas antes um conjunto de circunstâncias.
Entre elas o desemprego, que torna imprevisível o futuro dos jovens
e lhes faz adiar ou cancela definitivamente os planos para terem
filhos.
Depois há a resposta que se deve colocar nos
tempos actuais às novas gerações: «O que é importante na vida?». Na
Alemanha a maioria das respostas é «viajar», afirma Carl Haub.
Adianta que a população germânica tem sido das mais apoiadas pelo
estado, de modo a aumentar o número de filhos, mas mesmo assim não
ultrapassou este ano a taxa de 1,4, apenas uma décima acima de Portugal.
Também em França e na Suécia tem havido esse investimento, acrescenta.
Nos anos 1990, depois da queda do muro de Berlim, a
Rússia, então a braços com uma taxa de fecundidade de apenas 1,1,
decidiu pagar 9.000 dólares (quase 7.000 euros aos câmbios actuais) a
cada mulher que tivesse o segundo filho.
A taxa subiu e hoje no país cada mulher tem, em média, 1,6 filhos, o valor mais alto da Europa de Leste.
Contudo, e de um modo geral, «as coisas estão a mudar devagar»,
porque «os governos não estão a prestar atenção suficiente ao assunto»,
que exige «políticas de longo prazo».
Mesmo que a
tendência em Portugal se altere, como prevêem as projecções mais
optimistas dos demógrafos para 2030, e suba para os 2,0, a diminuição do
número de nascimentos vai continuar a diminuir porque manter-se-á a
descida do número de mulheres em idade de ter filhos.
Carl
Hub considera que a situação de austeridade e dificuldades económicas
que país vive irá «agravar ainda mais» a baixa natalidade.
Uma das soluções, defende, é adiar a idade da reforma e usar o dinheiro
que se poupa com isso no apoio às famílias para haver «mais gente
jovem». Lusa/SOL
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