7 de janeiro de 2010

Concordo

"Não obstante a dedicação e o esforço individual de grande número de professores portugueses; não obstante a mudança morfológica do modelo de direcção e gestão das escolas e o profissionalismo da generalidade das direcções executivas; não obstante o Diário da República nos assegurar, quase todos os dias, abundante legislação; não obstante as reformas, mais ou menos cíclicas de currículos, programas e regimes de avaliação dos alunos; não obstante os exames, introduzidos no sistema para o salvar da ineficiência e da ineficácia e enfim pôr termo ao recreio; não obstante os investimentos (ou despesas, dependerá do ponto de focagem) em equipamentos e em salários; não obstante o aceitável rácio de alunos por turma e o custo de funcionamento do sistema, a qualidade dos processos e os resultados educativos não correspondem ao esforço de investimento que o país vem realizando.

Toda a gente sabe isto. E então anunciam-se uma catadupa de soluções: maior intensificação e complexificação do trabalho dos professores; maior presença forçada nas escolas; mais planos educativos; mais planificações de prevenção de insucesso e de abandono escolar; talvez mais exames no ensino secundário e nos outros ciclos de estudo; ainda maior esforço de produção da legislação tecnicamente perfeita que vê os problemas e decreta as soluções universais; talvez menos direitos profissionais e mais deveres; talvez uma profissionalização da gestão.

Em suma: as soluções parecem passar pelo reforço da centralização e do controlo burocrático, pela tentação de transformar os directores em mandatários do poder central e fiéis executores das ordens superiores, pelo maior controlo e avaliação externos da acção dos professores.

Mas não foram sempre estas as soluções decretadas? Não foi sempre este o modelo de mudança, ainda que com diferentes nomes e cosméticas? E a ser verdadeira esta visão, não estão preliminarmente condenadas ao insucesso todas as tentativas de solução que não ataquem o problema central da (des)governação?

Mas então qual é o problema que é preciso atacar? Onde residem as causas dos males que nos afligem há décadas (há séculos)? No medo de existir, no medo da liberdade, no medo da autonomia, no medo do confronto, no medo de enfrentar a realidade, na cegueira institucional.

É aqui que está o novelo do problema. E como resolver esta magna questão? Mudando de paradigma da acção política; mudando de modelo de mudança; combatendo de forma persistente, paciente e duradoura as causas reais do nosso atraso.

A saída do labirinto passa pois por uma radical reforma nos modos de governar. Pela destruição da teia de leis, decretos, despachos que tolhem a acção das organizações e das pessoas. Pela aposta na inteligência individual e colectiva, pela aplicação efectiva do princípio da subsidariedade, incentivando ao desejo da autonomia e da responsabilização, contratualizando melhorias sensíveis e concretas em cada escola e agrupamento. Tomando o partido da liberdade, da autonomia e da responsabilidade. Instituindo modelos de desenvolvimento de geometria variável pois só assim será possível corrigir as crescentes assimetrias e injustiças. Redefinindo, de forma radical, a missão, o estatuto e a dimensão da administração educativa. Gerando dinâmicas de confiança, de suporte e apoio à acção educativa. Colocando, de facto, e não apenas na retórica, a escola no centro do sistema educativo. Pois é aqui que os problemas se resolvem ou não resolvem.

Mas para que as pessoas e as organizações tenham condições de trabalhar melhor, todo o sistema tem de estar organizado para as servir, diferenciar e apoiar. A chave da solução tem de passar por aqui. O resto é só paisagem e falsificação. Numa doentia ilusão de que é agora é que vai ser….. Quando a realidade, muitas vezes, já está a dizer que são piores as emendas que os sonetos.

Falta, enfim, saber se há gente interessada e determinada em caminhar para este horizonte. Porque se não houver podemos começar a fazer as malas."

José Matias Alves, no Terrear

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