A crença de que a terra é para aquele que a trabalha esbarra actualmente com um novo fenómeno. Países e empresas privadas estão a comprar ou a arrendar terras no estrangeiro para produzir alimentos. Esta usurpação de território cava um fosso ainda maior entre ricos e pobres e está a tomar-se uma nova forma de colonização. ONG em todo o mundo chamam-lhe a «land grab» do século XXI.
Os desequilíbrios do mercado alimentar e a subida dos preços da comida no início deste ano explicam o fenómeno. Mas os especialistas lançam o alerta de que estes acordos bilaterais - em alguns casos entre governos
Os Sakalava - comunidade nómada de Madagáscar - e tantas outras tribos remotas do planeta vivem do que a terra lhes dá. Esmagadas durante anos pela pressão demográfica, correm agora o risco de perder o pouco que ainda lhes resta. A tribo de Madagáscar aguarda com ansiedade a resposta do Governo à proposta da empresa sul-coreana Daewoo de arrendar 1,3 milhões de hectares (metade da Bélgica) por um período de 99 anos, para cultivar milho e óleo de palma destinados à exportação.
Entre os maiores compradores de terra conhecidos destacam-se o Japão, a China, a Coreia do Sul e os países do Golfo Pérsico. Segundo a FAO, o foco dos grandes investidores incide sobre o continente africano, onde muitos países enfrentam sérios riscos de insegurança alimentar. Da lista fazem parte Etiópia, Quénia, Somália ou Tajiquistão, países a braços com uma crise alimentar grave, que assistem impotentes à ocupação das suas terras por governos ou empresas estrangeiras.
Situações como esta podem gerar conflitos, não só internos - o que já acontece em muitos pontos do globo.
A segurança alimentar das populações é apenas um dos vértices do problema. O outro diz respeito ao impacto ambiental da industrialização agrária, que poderá ser trágico, ou mesmo irreversível. Nos ecossistemas de zonas ricas em biodiversidade, como a floresta tropical de Madagáscar, a introdução de monoculturas - em solos pouco férteis ou inadequados - pode ser desastrosa. Obrigará ao uso de fertilizantes em quantidades maciças e "afectará o solo e as pessoas que dele vivem", garante Michael Taylor.
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